domingo, 18 de janeiro de 2009

VINGANÇA. VINGANÇA, VINGANÇA!

O pobre menino rico, Jayme Monjardim conseguiu vingar-se de sua mãe, a pobre menina rica, Maysa, ao filmar a minissérie "Maysa, quando fala o coração". Vingança, sim senhores, foi essa a mais intima e inconfessável sentimento que moveu nosso querido diretor televisivo.

Pra começar, durante toda o programa a cantora é retratada como uma mãe displicente e ausente, capaz de abandonar o filho num internato espanhol durante dez anos, enquanto cantava serelepe e namoradeira, "Ne me quitte pas", pelos quatro cantos do mundo.

Ele próprio assina a direção. Gente do céu, o cara dirigiu a aberração Olga! Tá, tá, não vamos exigir do pobre senso crítico negativo em relação ao próprio trabalho. Mas no mínimo dá pra esperar um pouco de constrangimento. Dirigir cena da própria mãe transando... Eu ficaria morta de vergonha. Mas como dizia meu Santo Tio Herivelto, eu sou eu. Tem mais, durante todo o tempo ouvimos os personagens falando "Você é péssima mãe, Maysa!", "Você não vê seu filho a quanto tempo?!", "Esse menino está abandonado!". Hum...

Pedir a Manuel Carlos pra escrever... Doeu. Maneco transformou Maysa em uma de suas Helenas. Pra quem acompanha novelas sabe, todas as protagonistas de Maneco chamam-se Helena. E todos os enredos giram em torno de alguma mentira sincera contada pelas Helenas. Em resumo, todas as Helenas são mentirosas. Hum... Fróid explica... "Por que você mente tanto, Maysa?"

A opção de enredo, digamos "experimental", escolhida por Manoel Carlos - claro, com o aval de Monjardim, já que foi ele quem chamou o famoso novelista lebloniano. Há uma quebra a linha cronológica, apresentando o principal do drama já no início da minissérie, em várias idas e vindas no tempo. Não Maneco, não, alguém tem que te dizer, é duro de ouvir, mas você não sabe fazer isso. Seu negócio é começo, meio e fim e Leblon. E isso não é pouca coisa, não senhor.

Perguntinha: por que, os últimos dez anos de vida de Maysa-eu-sou-rebelde-porque-a-vida-quis-assim-porque-nunca-me-trataram-com-amor-matarazzo, ficaram expremidos em apenas um capítulo, o último? Tá Maneco, você fica me devendo o telefone do cursinho de roteirista que você vai ministrar. Estou esperando a-n-s-i-o-s-a.

E os diálogos, creindeuspai, quem, em sã consciência falaria coisas do tipo "Eu sou uma mulherrrr a frente do meu tempo", ou "Eu sou uma mulherrrr de posições firrrrmes, transgressora, rebelde...", num diálogo banal? E os atores, era impressão minha ou pareciam constrangidos com o que estavam falando?

Enfim, fiquei muito constrangida. A vergonha alheia aflorou, toda poderosa. Acertos de conta com o passado em rede nacional é pra quem pode. Fazer das nossas TVs seu divã particular não é pra qualquer um. Jayminho tornou público: minha mãe não prestava! Foi precursora da pobre-rica-celebridade-que-sofre-muito-com-a-fama. Outra coisa, pela minissérie a tão falada "rebeldia" maysiana, não passava de um caprichozinho de menina mimada e sem limites. Era só mais uma opção das muitas que ela teria na vida. Em vez de ser rebelde-sem-causa poderia, por exemplo, verenear em Bariloche ou fazer compras em Paris. É o que dá pra deduzir pela série, uma Maysa rasa, rasa...

Pra Monjardim resta um consolo: sorte dele ter vivido tanto tempo longe da mãe, uma perua chata e com bafo de cachaça e a cara de Ângela Rô-Rô. Não perdeu grande coisa não.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A CARAPUÇA


-Todos começam com a primeira tatuagem. O passaporte.
-Todos são "fotógrafos profissionais".
-Todos colecionam ou gostariam de colecionar vinis.
-Todos já assistiram a todos os filmes de arte do Circuito das Salas de Arte e sabem o nome de todos os diretores e atores obscuros e não obscuros. Gostam de conversar sobre isso.
-São descolados, estilosos, alternativos, contemporâneos.
-São, já foram, ou serão diretores de arte de algum vídeo experimental
-Todos são artistas plásticos. Fazem, já fizeram ou farão alguma perfomance ou exposição ou qualquer coisa que o valha.
-Adoram tirar fotos de si mesmos.
-São deprimidos, analisados, freqüentam psiquiatras e consomem tarja preta. Estão por dentro de todos os lançamentos da área. Gostam de conversar sobre isso.
-Todos fumam, fumam muito. Outro passaporte.
-Amam muito reticências.
-São, já foram, ou serão DJs e em algumas vezes sonharam em ser VJs. Alguns conseguiram.
-Vão à Chapada pelo menos 1 vez por ano, de preferência no carnaval.
-Adoram “clowns”.
-Todos lêem Nietzsche, Clarice e Virgínia Wolf. Gostam de conversar sobre isso.
-Adoooooram Nina simone.
-Cozinham muito bem. Têm preferência por comida mediterrânea, japonesa e mexicana.
-Todos usam óculos muito, muito, muito grandes.
-Viajados. Gostam de conversar sobre isso.
-Têm no mínimo 200 comunidades no Orkut. Todas cults, é claro.
-Foram à Argentina no último verão.
-Adoram Brechó.
-Flirckr com fotos a la Godard e legendas engraçadinhas.

...E no fim da noite fazem malabares pra relaxar.

Tainá Moraes

sábado, 25 de outubro de 2008

CORRA, JOÃO, CORRA!

Sempre que vejo o prefeito João Henrique invariavelmente me lembro do personagem Forrest Gump, o rapaz com QI abaixo da média que, por obra do acaso, consegue participar de momentos cruciais da história recente norte-americana. Somente assim é possível compreender como uma figura débil mental (com todo respeito aos débeis mentais). Ele conseguiu, não se sabe como, estar no lugar certo em momentos cruciais da história baiana dos últimos 10 anos e se eleger e reeleger prefeito da 3ª maior cidade do Brasil.

Comecemos do começo. João Henrique Carneiro (o sobrenome é intencional???) Barradas é filho de João Durval, ex-governador carlista e ele próprio, ex-carlista. Conhecida historinha da época em que papai mandava: Janjão Gardenal ocupava um cargo no Estado, não sei qual. Por alguma razão foi criticado, e esperneou publicamente dizendo que "iria contar pra mainha que estavam falando mal dele!". Sim, senhoras e senhores, essa foi uma história real. Inclusive na primeira vez em que foi eleito participou de um debate, essa história foi colocada e ele não negou. Justificou que era muito jovem na época.

O primeiro cargo eletivo foi o de vereador, após ter impetrado "importantíssimas" ações na justiça contra a cobrança de estacionamento nos shoppings; proibição do uso de radares e fotossensores na cobrança de multas; contra a taxa de lixo e por aí vai. Na mesma leva foi eleito deputado estadual. Corra, Forrest, corra! Candidatou-se umas duas vezes a prefeito, sem sucesso, sempre com as mesmas bandeiras. Taxa de lixo, estacionamento nos shoppings blá-blá-blá... Vai Forrest...

Em 2004, finalmente a hora e a vez de João Henrique Carneiro. O Carlismo está em franco declive. Lança César Borges, um político pra lá de queimado, com uma ficha enorme de serviços prestados ao seu babalorixá, Toinho Magalhães. Ou seja, o carlismo em forma de gente. O PT desde aquela época já refém dos "partidos da base", lança como candidato Nelson Pellegrino, político já desgastado, eterno candidato à prefeitura e pra piorar sem apoio do governo federal. Em quem votar, em quem votar? João! Vai Forrest... E lá vai ele, sem saber como nem porquê, consegue se eleger prefeito pelo PDT. Mas... O que é mesmo uma prefeitura Forrest? Ops... Resultado, João faz uma das piores gestões que essa cidade já viu, ou melhor, não fez. Descobriu que administrar uma cidade é muito diferente de impetrar ações. Então sumiu. Durante 3 longos anos, Janjão desapareceu... E 3 anos é muita coisa...

Greve de ônibus, a cidade parada durante 1 semana, cadê João? Ninguém sabe, ninguém viu... Quase 1 dezena de mortos em enchentes. Cadê João, alguém viu? Todos os terceirizados estão sem receber João, cadê você?? Corre Forrest, dessa vez de medo... A cidade vira um caos, o lixo não é recolhido; falta merenda nas escolas e médicos nos hospitais; os funcionários públicos entram em greve, por quase 1 mês e nada de João...

Minto, minto, uma vez ele apareceu. Durante a polêmica sobre as barracas de praia. João Maracujina reaparece. E chora. Chora muito. Que IBAMA é esse, meu irmão, que embarga as obras das barracas de praia de Janjão? Tão formosas, praticamente casas no meio da praia com alvenaria, telhado e piso de cerâmica e tudo que um lar tem direito. Tão graciosas... Chora não João, você é um homem à frente do seu tempo. No futuro compreenderão seus esforços.

A essa altura João Forrest, Henrique Gump... João Henrique é o prefeito mais impopular do Brasil, com o maior índice de rejeição entre as capitais. Na verdade João Colírio Alucinógeno não é muito ligado nessas coisas não. Aliás, ele não é ligado em nada. Como todo cristão que se preze, é um homem extremamente despreendido. Despreendido inclusive da prefeitura, que em verdade é uma casinha de vidro muito da feia. O que ele quer mesmo é fazer o bem. Quer tanto que lança no final de 2007 um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental para Salvador, disseram a ele que isso era uma coisa legal de se fazer e além do mais ele achou o nome bonito, Plano Diretor... Disseram-lhe ainda que era um homem de visão e João acreditou. Passou inclusive a usar óculos. E João viu. Viu o futuro: prédios enormes na Orla; A Avenida Paralela que é só mato, cheinha de prédios, enorme, vistosos, bonitos. Forrest ri.

A essa altura, já que se transformou num grande homem de visão, o PDT é pequeno demais para ele. Sai e filia-se ao PMDB. Ou o PMDB se filiou a ele... Não sabe ao certo. É tudo meio "confuso". O Fato é que ele é, de novo, o homem errado no lugar certo. Geddel Base do Governo Vieira Lima vê em João uma oportunidade de ter a prefeitura de Salvador em suas mãos. João Água com Açúcar tá meio cansado e não vai se importar de emprestra a prefeitura só um pouquinho.

Pois então, no último semestre de sua gestão com ajuda do PMDB, com as verbas do ministério da Integração Nacional, e como muita, muita fé em Deus, Salvador-iô-iô vira um "mar de obras". Banho de luz, banho de asfalto, merenda nas escolas, mais banho de luz, mais banho asfalto e é claro, o ônibus amarelinho que faz percursos de 500 metros "por apenas 1 real".

Aproximam-se as eleições e quatro fortes candidatos anunciam-se: o ex-prefeito Imbasshay, ex-carlista; ACM Grampinho, o Neto do carlismo; Walter Pinheirinho, deputado do PT. João Haldol, claro. Corra, Forrest! E Hilton 50, é claro, mas esse ainda não entra na história. Ainda.

Resumindo: Grampinho não conseguiu sair do patamar histórico do carlismo. E ficou de fora. Imbasshay, base do governo baiano mas oposição ao governo estadual. Se lenhou, ficou no limbo sem poder falar mal de ninguém. Pinheiro fica com os 30% de sempre do PT em Salvador, consegue chegar ao 2º turno junto com... Quem? Ele mesmo. Janjão Rivotril. Mas ele não era completemente impopular? Era, não é mais. Com tanto banho de asfalto, banho de luz, mais o ônibus amarelinho que faz percursos de 500 metros "por apenas 1 real", mais uma campanha extremamente agressiva capitaneada por Geddel Base do Governo Vieira Lima, consegue chegar também ao 2º turno. Corra, corra!

Mais do mesmo: Pinheiro, candidato do PT, sem o apoio do governo central e visivelmente constrangido com as amarras que ser "base do governo" lhe impunham. Mais um marketing completamente recuado; mais um apoio muito de meia-boca do governo estadual, que só resolveu entrar na disputa mesmo na última semana da campanha. E ainda assim, não para ajudar o pobre Pinheirinho, mas porque vislumbrou o evidente desastre de 2010, com Geddel Base do Governo Vieira Lima com a prefeitura da capital e um ministério abonadíssimo nas mãos. Mais o silêncio de Lula. Quem cala, consente? Já era tarde. Janjão Diazepan ganhou. É verdade que ele não sabe ao certo como, nem o quê. Mas ganhou e continua correndo. E Titio Geddel vai dar uma forcinha e explicar algumas coisinhas. Ele prometeu...

Pois é isso meu povo. Num dado momento do filme Forrest corre, não sabe o porquê, mas corre e milhares de pessoas o seguem. Uma dos corredores pergunta a outro por que estão correndo, ele responde que não sabe, que está correndo porque Forrest corre. Então... Essa é a população de Salvador. Forrest somos nós, Forrest é nossa voz.

Tainá Moraes